As ruas do Distrito Negro em Orzio estão vazias, pois todos sabem o
perigo que é andar por esse mais novo distrito da cidade quando o sol se
põe.
O Distrito Negro foi construído mais por necessidade do que por conveniência, já que os preços de
hospedagem, comércio e alimentação nos outros bairros de Orzio subiam vertiginosamente a cada dia e logo
um bairro mais acessível para todos os forasteiros se fez necessário.
Porem à noite o Distrito Negro atrai por outro motivo além dos preços mais
baixos, suas várias passagens para as catacumbas, que dão caminho ao
conhecido Mercado do lixo.
Um local onde encontra-se tudo o que se deseja a venda. Claro que por um devido preço.
Outro local bem conhecido no Distrito Negro é a Taberna do Peixe Dorminhoco, uma estalagem de preços acessíveis, quartos limpos e clientes bem menos arruaceiros que as outras estalagens da área.
Duas
quadras ao norte da estalagem em um beco conhecido como Rato Faminto,
devido aos ratos que vivem ali serem capazes de devorarem tudo o que ali
para, algo começa a se formar, primeiro como uma pequena esfera que
roda em círculos, depois aumentando gradualmente de tamanho até virar um
grande circulo azul parado horizontalmente.
Os ratos
por instinto se aproximam da esfera, pois a mesma pode ser sua próxima
refeição, mas apenas para serem empurrados para longe com uma lufada de
vento que irrompe da mesma.
A esfera então some com a mesma rapidez que surgiu, e uma silhueta feminina começa a tomar forma.
Os
ratos guincham em um misto de excitação e medo, enquanto tomam uma
distância segura, se escondendo nas sombras do beco enquanto aguardam
para atacar.
Uma voz feminina ecoa pelo beco:
"-Consegui-" Diz Ayrim Starmaster esboçando um sorriso.
Sob
a pouca iluminação uma bela jovem, de cabelos ruivos, rosto delicado,
com uma particularidade, um olho
azul e outro verde, lábios vermelhos vivos, silhueta bem definida,
vestida com uma calça vermelha que parece colada ao corpo, tal como seu
colete na mesma cor da calça que cobre uma pequena blusa azul, colete e
blusa esses que permitem ver boa parte de sua pele, já que deixam toda
sua barriga a mostra. Uma bolsa no ombro esquerdo e um cinto de poções
marrom terminam de compor o visual da jovem.
Mas o que
por mais incrível que possa parecer chama a atenção para a jovem é o
fato de seu braço e mão esquerda serem de metal, perfeitamente anexados
ao corpo, um trabalho fantástico de se observar.
Ayrim
imediatamente sente a dor em seu flanco esquerdo, ela leva a mão ao
ferimento que sangra em abundância, ferimento esse resultado de sua
batalha para conseguir chegar a esse local e a essa época.
"Malditos tocados pelo vazio." Pensa a jovem enquanto olha sua mão agora coberta por sangue.
Ignorando
a dor e o sangramento Ayrim dá o primeiro passo, apenas para ser
surpreendida com a gravidade do ferimento, a bela viajante do tempo
cambaleia e cai de encontro a parede do beco.
O corpo
desliza sem forças com a parede escorando o peso, a parede como um
abraço ao corpo de Ayrim, exigindo que ela pare, a visão cada segundo
ficando mais e mais difusa, o corpo pedindo por paz, para que ela se
entregue.
"Ayrim você precisa cumprir sua missão,
tantos morreram para que eu estivesse aqui, a morte deles, todos os
sacrifícios, nada disso pode ser em vão." Pensa a jovem.
Enquanto
isso o cheiro do sangue fresco atrai novamente os ratos, que ali
naquele beco, não se preocupam com o tamanho, ou estado da comida, só
pensam em suprir sua necessidade de alimento.
Ayrim primeiro escuta os guichos e só após vê os pequenos seres que avançam vagarosamente em sua direção.
Imediatamente
Ayrim arremessa sua bolsa, em qualquer local isso poderia afastar os
ratos devido ao susto, mas não ali, não aqueles ratos.
"Não vim até o passado para ser morta por meros ratos." Pensa a jovem.
Ela
então aponta seu braço metálico que em muito se parece uma manopla de
combate só que mais delicado, uma verdadeira obra de arte que seria
disputada por incontáveis artesãos.
Utilizando suas
últimas forças, essas quase exauridas pela perda excessiva de sangue,
ela tenta pensar em alguma magia, um cone de fogo, um raio de fogo,
qualquer coisa, mas suas energias não são suficientes para que a maga
consiga invocar tais feitos.
Pois magia é energia e energia é algo que a jovem nesse momento está longe de possuir.
A mão desce sem forças, exausta, cada segundo para manter a consciência é uma luta épica que ela trava dentro de si.
Os
ratos se aproximam ainda mais, seus focinhos farejando avidamente o ar,
suas bocas salivando frente a uma refeição farta, seus olhos refletindo
o brilho vermelho da morte.
Ayrim sorri frente a grande ironia de seu destino enquanto tenta se reerguer.
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Recomendado ler o post ao som de Dressed to Fool- The Sorry Shop.
Valeu pessoal, abraço e até o 1º capítulo tanto do livro como do pbm.
Escrito por Anderson L. A. Ferreira.
Mto bom!
ResponderExcluirObrigado!
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